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Compreender que existem diferentes saberes matemáticos permite a educadores inovar no ensino e auxiliar o entendimento dos alunos

Imagem mostra menino escrevendo números com giz em uma lousa durante uma aula de matemática.

É comum encontrar alunos e ex-alunos que não gostam de matemática, sem contar que apenas 9,1% dos estudantes que concluem o ensino médio têm a aprendizagem adequada sobre conceitos matemáticos, de acordo com estudos sobe o Plano Nacional de Educação. Então, como facilitar o ensino e a aprendizagem de um conteúdo considerado difícil de entender?

A inovação no ensino da matemática passa por formas de valorizar a realidade de cada lugar e os saberes locais para aumentar a compreensão do tema. Uma delas é a etnomatemática, um programa de pesquisa que inspira educadores a transformar a escola em um local de encontro de saberes e práticas matemáticas. Em outra, a discografia do grupo Racionais MCs é a base para ensinar educação financeira a pessoas negras e da periferia. Conheça um pouco mais sobre ambas:

Diferentes saberes matemáticos

“A etnomatemática é um programa que estuda diferentes saberes [locais] e fazeres da matemática. Basicamente, ela reconhece que existem matemáticas, no plural mesmo, afinal diferentes grupos culturais têm saberes e modos matemáticos próprios”, explica Jonei Barbosa, professor de Educação Matemática da Faculdade de Educação da UFBA Universidade Federal da Bahia.

Diversos grupos têm conhecimentos próprios sobre conta e medir: agricultores, comerciantes, indígenas e pedreiros, que se utilizam de esquadros e prumos na construção civil, por exemplo.“Logo, a etnomatemática é o reconhecimento de que existem diferentes saberes. Não é um método de ensino, é um programa de estudo e pesquisa que faz esse reconhecimento da multiplicidade de saberes e fazeres matemáticos”, complementa o especialista.

Sob a luz desse conceito, diz Barbosa, a matemática escolar e a acadêmica são consideradas apenas uma das etnomatemáticas possíveis, não sendo nem melhor ou pior do que outras derivadas dos saberes locais de uma população. “Uma consequência direta da etnomatemática é enxergar a sala de aula como um local de encontro de saberes matemáticos”, acredita.

Jonei Barbosa cita exemplos de atividades inspiradas pela ideia da etnomatemática. A intenção é ampliar o repertório dos estudantes e mostrar que o saber da escola não é melhor nem pior do que outros, proporcionando uma visão horizontal para valorizar todos os tipos de conhecimento.

  • Educadores podem trazer para a sala de aula saberes matemáticos de um determinado grupo social ou cultural. Pedreiros utilizam o esquadro para conferir se paredes estão perpendiculares. É possível fazer um paralelo com conteúdos escolares como o triângulo retângulo;
  • Os professores podem pedir para que os alunos visitem locais e descrevam os saberes matemáticos utilizados lá, como uma padaria, uma feira e uma série de outros espaços que lidam com matemática, proporcionando aprendizados a partir da observação e discussão em sala de aula, levantando debate sobre semelhanças e diferenças do conteúdo ensinado na escola.
  • Os próprios estudantes fazem parte de grupos com contextos socioculturais diferentes, que também contam com saberes matemáticos. A escola pode proporcionar uma troca, com o professor discutindo similaridades e diferenças de métodos.

Rap como metodologia

Quando atuava no setor de educação financeira, a economista Gabriela Chaves percebeu que era cada vez maior o que ela chama de “abismo entre populações negras e periféricas e grupos de regiões com grande poder econômico”.

“A partir disso, me debrucei para desenvolver uma metodologia que pudesse alcançar a problemática e a vida dessas pessoas, e que fizesse sentido para elas”, conta. Assim nasceu a NoFront, que oferece cursos de educação financeira utilizando a discografia do grupo de rap Racionais MCs como metodologia.

“A matemática muitas vezes é vista de forma abstrata, ou as pessoas acham que economia é aquele índice que elas não entendem, quando na verdade todo mundo lida com economia”, diz Gabriela. “O analfabetismo matemático é uma realidade, somos uma população que não consegue calcular juros, porcentagem ou fazer contas de operações básicas. O principal desafio pedagógico é trazer conceitos abstratos da matemática para uma realidade complexa e, a partir da vivência do aluno, construir conhecimentos juntos. Quando o educador consegue fazer trocas com os alunos, ambos saem transformados”, completa.

“Uma forma de se conectar com a realidade é por meio do rap”, opina a economista. “A obra do Racionais promove um diagnóstico sobre a pessoa negra e periférica brasileira, e é um material rico para compreensão de fenômenos econômicos, políticos e sociais”, revela. “Quando falamos de Fim de Semana no Parque, falamos de uma música que consegue sintetizar uma desigualdade que é vivida por milhões de pessoas no Brasil, que sistematiza processos racionais e inconscientes que vítimas da desigualdade passam”, exemplifica.

Para Gabriela, é importante que trabalhos como o do grupo de rap paulistano sejam valorizados, o que permite explorar o potencial dessas obras para promover discussões sobre desigualdade, autoestima e consumo. “Essas novas referências contribuem para os locais de aprendizagem. Precisamos sair de um modelo eurocêntrico que não reconhece nossas potencialidades, e essa metodologia alternativa dá perspectiva para romper com barreiras.Temos uma juventude cada vez mais conectada e isso traz um desafio grande para educadores, que precisam ter referências próximas desse aluno para tornar o processo de aprendizagem efetivo”, finaliza.

O ProFuturo, programa global da Fundação Telefônica Vivo e Fundação ’’la Caixa’’, presente em 31 países, inclui a plataforma Escolas Conectadas, que disponibiliza gratuitamente o curso Construção de jogos, materiais e atividades de Matemática para as séries iniciais. Com certificação pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e carga horária de 15 horas, o conteúdo busca contribuir com práticas pedagógicas alternativas que trabalhem o lúdico para ensinar matemática, como jogos, desafios e materiais para uso em sala de aula.

Como o ensino de matemática pode inovar ao valorizar saberes locais
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