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Em expansão e passando por rápida transformação no mundo todo, o uso de tecnologia na educação está ganhando importância na Educação Básica; conheça alguns exemplos

Mulher sorri e olha para tela de notebook enquanto usa fones de ouvido para ilustrar exemplos de boas práticas na educação a distância.

A educação a distância (EAD) cresce no Brasil e as vagas dessa modalidade chegaram a superar a de cursos presenciais em 2018. Segundo o instituto internacional ICEF, consultoria norte-americana responsável por eventos no campo da Educação, essa tendência é mundial e puxada pelo rápido avanço tecnológico. Fatores como equidade e acesso à tecnologia influenciam os diversos cenários no mundo.

Por isso, é cada vez mais importante falar sobre boas práticas, evidenciando como educadores podem trabalhar conteúdos com os alunos dentro de diferentes contextos.

Em virtude do Dia da Educação, comemorado em 28 de abril, a Fundação Telefônica Vivo está produzindo uma série de reportagens especiais sobre como recursos e ferramentas tecnológicas aliados à formação de educadores podem contribuir para elevar o nível da educação, o que se alinha ao 4º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A meta 4.4 indica que até 2030 é necessário aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais para emprego, trabalho decente e empreendedorismo.

Um modelo de planejamento e estratégia de ensino. Assim Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo com especialização em tecnologias digitais, descreve o modelo de uso de tecnologia da Finlândia.

“Para eles, a tecnologia é só mais um recurso. O foco está em desenvolver pessoas alinhadas com os princípios da cultura finlandesa, que tenham autonomia na sua forma de viver, que sejam extremamente proativas”, explica a especialista, acrescentando que eles também dão muita importância para o contato com a natureza e o desenvolvimento de habilidades manuais por meio de oficinas de marcenaria, elétrica e hidráulica.

O país nórdico se destaca por ter um centro de startups que desenvolvem aplicativos para apoiar a educação a distância. Um deles é o Seppo, que permite criar atividades e jogos verificados por professores. Tudo é feito por projetos e tem uma base dialógica. As crianças contribuem com inquietações e curiosidades, participando ativamente do processo.

Além disso, é feita uma integração de diferentes disciplinas para além das tradicionais, como Geografia, Português ou Matemática. Os estudantes também compartilham o que estão fazendo em seus jardins, ou um trabalho de corte e costura. Tudo isso faz parte da rotina e não é feito no contraturno, fato que torna o uso da tecnologia algo mais orgânico.

Ensino a distância como realidade

Vem do Brasil, outro exemplo de bom uso de tecnologia. Com grande território que impõe barreiras de acesso a municípios e comunidades ribeirinhas, há cerca de uma década o Amazonas desenvolve o Centro de Mídias de Educação do Amazonas (CEMEAM), especializado na produção de conteúdos televisivos de aprendizagem.

Considerada uma iniciativa pioneira, segue uma linha pedagógica que conta com a presença dos alunos, mas utiliza algumas características da educação a distância. Disponibiliza recursos para aulas síncronas, ou seja, que envolvem interatividade em tempo real, além de mídias estrategicamente planejadas para o desenvolvimento de atividades assíncronas.

As aulas são produzidas por especialistas e transformadas em peças televisivas transmitidas ao vivo para todas as salas de aula simultaneamente, em horário regular. Cada sala conta com um kit tecnológico e com um professor para mediar o processo de aprendizagem.

Devido à pandemia causada pelo coronavírus e a consequente suspensão das aulas, a Secretaria de Educação do Amazonas organizou o Regime Especial de Aulas Não Presenciais. Considerando que nem todos os municípios têm acesso a computadores e internet, pensaram na estratégia de utilizar o canal TV Encontro das Águas para transmitir o conteúdo das aulas.  Para quem tem acesso à internet, as redes usarão plataformas de ensino a distância e conteúdos no YouTube e Google para complementar o aprendizado.

“Os professores foram orientados a criar grupos em aplicativos de mensagens instantâneas para manter contato diário com seus estudantes. Além disso, a SEDUC está abrindo horários da TV para levar aos professores orientações de como utilizar recursos tecnológicos para organizar as aulas”, acrescenta o professor Raimundo Barradas, secretário adjunto pedagógico da secretaria de educação do Amazonas. “Trata-se de uma medida emergencial, mas acreditamos que essa iniciativa traz muitos aspectos positivos, pois garante uma rotina de estudos e desafia a rede estadual a propor alternativas educacionais inovadoras”.

A iniciativa, inclusive, chamou a atenção das secretarias de outros estados e pode chegar a atender até 4 milhões de estudantes do ensino público em todo Brasil.

Educação Remota Emergencial

No mundo todo, a pandemia mudou completamente a perspectiva em relação ao uso da tecnologia e na forma de ensinar, já que o modelo presencial está paralisado momentaneamente. Se antes era feito um trabalho de estímulo à apropriação de recursos para que professores se familiarizassem com dispositivos e descobrissem o potencial deles para estimular seus estudantes, hoje a urgência tem acelerado o debate e os processos.

“Agora a tecnologia possibilita dar andamento ao processo educacional e surge o termo Educação Remota Emergencial, que é como está sendo chamado o processo que estamos vivenciando. Não é a educação a distância como vem sendo ofertada principalmente no Ensino Superior, mas algo ainda rudimentar, um processo de tentativa e erro para buscar alternativas que cheguem aos alunos”, explica Luciana Allan.

Isso não quer dizer que faltem exemplos de boas práticas. A especialista explica que a China, país conhecido por sua tecnologia de ponta apesar de um modelo tradicional de ensino baseado em disciplina, também está usando canais de TV em articulação com transmissoras locais.  Há ainda estímulo à expansão do acesso à internet com ajuda das empresas de telefonia, o que possibilita o uso de ferramentas síncronas, como videoconferência.

Já em Israel, chama a atenção é a forma de trabalhar em colaboração. Mais de 200 professores se uniram em um grande hackaton da educação para criar materiais e fazer uma curadoria de recursos interessantes para o EAD neste momento. O movimento começou no Facebook de forma voluntária e todas as informações foram organizadas em uma página com dicas e orientações que envolvem os pais, as escolas e as crianças.

Outro país que recorreu a uma maratona de programação para desenvolver soluções para a educação neste período de distanciamento social é a Estônia, onde a maioria dos serviços públicos e até mesmo as eleições já são feitos por meio digital. Em 48 horas, mais de 80 ideias foram desenvolvidas e as cinco melhores ganharam um prêmio de 5 mil euros para serem executadas por meio de um fundo. Além disso, o país participou da criação do site Education Nation, que reúne plataformas de ensino, em inglês.

Luciano Sathler, PhD em Administração pela FEA/USP e membro do Comitê de Qualidade e do Comitê Científico da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), também concorda que estamos vivenciando uma crise inédita que modifica muitas estruturas. “O que ela fez foi acelerar as coisas. Portugal, por exemplo, tem a Universidade Aberta, em Lisboa, que funciona há 36 anos e é referência em educação a distância. O governo fechou um acordo e agora estão capacitando professores da educação básica em tempo recorde”, afirma.

O que se pode esperar do futuro

Ainda que cada país desenvolva projetos alinhados a suas realidades, uma coisa é certa para os especialistas: após este período de isolamento social, a Educação não deverá ser a mesma.

“Os professores vão olhar para tudo isso de forma diferente. Verão que os alunos têm outras formas de pensar e vão estabelecer outros tipos de relação. Acho que a escola vai se reinventar na forma como ela está organizada hoje, nas disciplinas, quantidade de conteúdo, estratégia de ensino, tudo isso vai acabar sendo repensado. Quanto mais tempo ficarmos nessa situação, maior vai ser essa mudança”, aposta Luciana Allan.

Assumir uma nova cultura pode levar décadas ou até mesmo gerações, mas quando há uma quebra de paradigma tudo muda de um jeito muito mais rápido. “Quando começamos, há 20 anos, diziam que éramos loucos. Agora já é uma realidade e ninguém vai voltar igual. A aula presencial vai ser mudada e haverá um momento em que veremos a educação como um todo sem diferenciar o que é a educação a distância”, conclui Luciano Sathler.

Como países estão desenvolvendo boas práticas na educação a distância
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