Saltar para o menu de navegação
Saltar para o rodapé
Saltar para os conteúdos
Saltar para o menu de acessibilidade

Em São Paulo, o Congresso Internacional de Jornalismo de Educação promoveu discussão aprofundada sobre como a comunicação pode ajudar a melhorar a educação do Brasil

#EducaçãoMidiática#Jeduca

Jornalista Antônio Góis está vestido de terno e falando ao microfone no palco do Jeduca 2019, durante a abertura do congresso que discute relação entre comunicação e educação.

Nos dias 19 e 20 de agosto, aconteceu em São Paulo o 3º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação (Jeduca 2019). Organizado pela Associação de Jornalistas de Educação, o evento promoveu um debate aprofundado sobre o papel da comunicação na busca pela educação de qualidade e em como contornar os desafios que surgem nesse processo.

Realizado com apoio da Fundação Telefônica Vivo, o congresso voltado principalmente a estudantes, jornalistas de educação e profissionais da comunicação em geral teve como tema central “Os desafios do jornalismo de educação na era da desinformação”.

Foram mais de 20 atividades com foco nas discussões sobre combate às notícias falsas e reconquista da credibilidade do jornalismo, educação midiática nas escolas, assim como pautas educacionais prioritárias no Brasil de hoje.

A seguir, confira quatro reflexões que surgiram no Jeduca 2019:

Educação midiática é urgente

O fenômeno das notícias falsas é um dos assuntos mais falados da atualidade, de modo que se torna cada vez mais fundamental e urgente a chamada educação midiática.

“Apostar na formação de pessoas é a melhor maneira de combater as informações falsas”, defendeu o colombiano Tomás Durán Becerra, pesquisador e membro da rede Unesco-UNAoC em Milid, cujo foco é a promoção de sociedades letradas em mídia e informação.

O professor de Gestão de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, também participou do Jeduca 2019 acrescentando que a mentira se propaga mais rápido porque se adapta às narrativas diversas. “Agora é o momento de o jornalismo ser extremamente cauteloso e executar seu papel com rigor e equilíbrio, com diversificação de fontes, contextualizações, dados atualizados, etc.”

Bons exemplos merecem destaque

Estamos acostumados às notícias que mostram violência, tragédia e desesperança, mas por que não dar mais espaço às histórias inspiradoras que existem aos montes por aí? Esse foi o apelo do jornalista Vagner de Alencar, codiretor da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e autor do livro Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo.

Durante palestra em formato TED, ele, que é morador de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, contou que criou a Agência Mural porque estava descontente com a forma como a imprensa retrata as favelas. “Ou falam da violência ou com certa glamourização que aparecem em novelas”.

Desde sua criação em 2010, a Agência Mural já contou mais de 2.500 histórias, com a ajuda de 80 correspondentes espalhados pelas periferias de todos os cantos de São Paulo. “A periferia não é carente, ela quer viver, quer cinema e lazer, bons espaços públicos, serviços de saúde e transporte público de qualidade”, disse Vagner.

Em outro TED, a vice-diretora Lilian Keli Guilherme de Lima e a professora Sandra Perez, da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) falaram sobre os erros e acertos da cobertura da imprensa ao retratar o episódio que ocorreu na escola em março deste ano. Elas também pediram por uma comunicação mais focada em bons exemplos.

“Até o início desse ano, nossa escola era conhecida na região pelas nossas enormes conquistas educacionais. Somos uma das três melhores escolas de Suzano. Nosso trabalho precisa ser mostrado. Não queremos que nossa história seja apagada por causa dessa tragédia”, pediu Sandra.

Os jovens querem ser ouvidos

Aos 17 anos, Julia Farias trabalha numa startup e tem muito a dizer. Em 2018, quando cursava a última etapa do ensino médio na ETEC Professor André Bogasian, ganhou bolsa para produzir uma reportagem sobre reforma do ensino médio. A experiência lhe rendeu a conclusão de que os estudantes não são ouvidos, apesar de terem muito a dizer.

“Vocês precisam entender a nossa importância nas discussões. Todos nós queremos educação de qualidade. Se tem alguém que pode falar sobre a escola somos nós que estamos lá todos os dias”, enfatizou Julia.

O protagonismo estudantil também foi discutido por Luana Tolentino, professora de História em escolas públicas das periferias de Belo Horizonte e autora do livro “Outra educação possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula”. Durante o painel Escola em tempos de conflito, ela compartilhou suas experiências para trazer discussões plurais para a sala de aula.

“A maioria dos estudantes quer entender e participar desse mundo diverso que está aí. Trabalho com uma sala bem horizontal, trazendo-os para o centro do debate. Eu sempre ouço o que eles têm a dizer e ofereço subsídios para que quebrem seus próprios preconceitos e desenvolvam pensamento crítico”, diz Luana.

Educação está no centro do debate

Discutir os rumos da educação faz cada vez mais parte do cotidiano de muitos brasileiros. Assim, algumas pautas educacionais importantes, como Base Nacional Comum Curricular, Novo Ensino Médio, Alfabetização e Formação de Professores foram abordadas em vários painéis do Jeduca.

No painel Alfabetização na prática, a professora Ticiane Maria de Souza Silva, da Rede Municipal de Sobral (CE), falou sobre os êxitos da rede de 62 escolas e mais de 33 mil alunos que é considerada a de melhor educação básica pública do país.

“As políticas educacionais foram baseadas em três eixos estratégicos: fortalecimento da gestão escolas, fortalecimento da ação pedagógica e valorização do magistério a partir do reconhecimento e da qualificação do docente”, relatou Ticiane.

Katia Stocco Smole, diretora do grupo Mathema e ex-secretária de educação básica do Ministério da Educação, e Fred Amâncio, Secretário de Educação do Estado de Pernambuco, estiveram reunidos para discutir a implementação da BNCC e da Reforma do Ensino Médio.

Segundo Kátia, a BNCC colocou a aprendizagem no centro. “Incluir na base da educação infantil até o ensino médio significa que estamos pensando num projeto de educação para o país. Mas ela não é perfeita, todo mundo sabe disso. É preciso revisões, que devem acontecer em 2025”, acredita.

“Os desafios de implementação são enormes, em especial no caso do Ensino Médio”, define Fred. “A reforma traz mudanças substâncias em toda a estrutura do Ensino Médio, já que começamos a falar de itinerários formativos, escolas em tempo integral, formação de professores, infraestrutura, Enem. O desafio é construir um planejamento para tudo isso”.

Cerca de 30 pessoas estão sentadas em carteiras, usando notebooks e olhando para uma projeção durante uma das oficinas do Jeduca 2019.

Além das palestras, o Jeduca também trouxe uma série de oficinas práticas para auxiliar os profissionais da comunicação a aperfeiçoar a cobertura jornalística. Foi o caso da oficina Como achar dados de educação, conduzida pelo jornalista e presidente do Jeduca, Antônio Gois. Aos participantes, ele apresentou ferramentas essenciais para uma boa apuração de dados, como o Portal do Inep, a plataforma Qedu e o Observatório do PNE, que é apoiado pela Fundação Telefônica Vivo.

Quatro temas que se destacaram no Jeduca 2019
Quatro temas que se destacaram no Jeduca 2019