Os profissionais da escola não são os únicos responsáveis
pela aprendizagem dos jovens

Conceito

Não dá para se comprometer com a educação do século XXI, sem que a escola amplifique cada vez mais o foco no estudante e em tudo que o cerca. Logo, quando falamos da gestão de uma escola comprometida, devemos contar com a participação de pais, estudantes, professores, equipe e comunidade, numa colaboração constante e transparente.

É preciso que os anseios e as perspectivas de todos sejam levados em consideração, de forma que os objetivos, responsabilidades e benefícios de cada um estejam sempre alinhados e muito bem compreendidos.

Há cinco eixos importantes que devem nortear o trabalho dos gestores: flexibilidade, autonomia, responsabilidade, planejamento e participação.

Desafios

Caminhos percorridos

Um passo enorme é dar essa voz aos estudantes, fazendo com que se apropriem de seus papéis como protagonistas do processo de ensino. Esses jovens, mais do que nunca, sabem o que querem e podem ajudar muito nas decisões quanto ao seu processo de aprendizagem. Sendo assim, muitas escolas já contam com essa participação na tomada de decisões.

A ideia era trazer os alunos para o Conselho de Classe. No entanto, receosos de que eles não conseguissem expressar seus anseios na presença de adultos, foi criado o Conselhinho. Lá eles discutem suas pautas com seus representantes, de que forma destinar recursos para elas, quem poderá concretizá-las, para depois enviar tudo ao Conselho, que analisa e faz os encaminhamentos necessários.

Na EPG Manuel Bandeira, os alunos participam ativamente da gestão da escola. Essa prática foi consequência da mudança na rede municipal de ensino de Guarulhos, em 2012, que propunha a participação de representantes dos alunos no Conselho de Classe. A nova formatação criou o Conselhinho, espaço onde os estudantes dão sugestões e fazem reivindicações para serem levadas ao Conselho.

Ideia! Envolva seus estudantes nas tomadas de decisões, perguntando o que eles acham de processos simples da escola e se ajudam na sua aprendizagem. Leve os resultados para a gestão escolar e veja o que pode ser feito para responder às questões desses jovens.

Um passo ainda mais ambicioso é tentar trazer a comunidade para dentro da escola, inserir os pais e responsáveis no cotidiano desses jovens, de modo que tenham consciência e mais participação em tudo que envolve o processo educacional. Em alguns casos, não é fácil chegar até a comunidade, uma vez que há estudantes com estruturas familiares muito diversificadas. Mas, uma vez engajados, a escola ganha mais força, proteção e envolvimento com seu entorno. Um esforço que vale a pena!

É só lembrar-se do exemplo da EMEF Campos Salles, que derrubou seus muros e passou a fazer ainda mais parte da comunidade. A escola era famosa por ser a escola dos favelados e dos violentos, dos baderneiros. Agora a fama é: a escola da comunidade. Hoje, escola e comunidade são uma coisa só.

A EMEF Amorim Lima decidiu envolver a comunidade na gestão da escola, por meio do Conselho Deliberativo. As reuniões eram semanais, porque cada vez mais a comunidade se engajava para entender o que acontecia na escola. No começo, a gestão escolar compartilhava os problemas que enfrentava e, rapidamente, a escola e a comunidade começaram a pensar juntas nas soluções, levando à criação de um projeto político pedagógico.

A participação da comunidade foi essencial para a construção de um projeto político pedagógico, que chegou às mãos do secretário de educação graças ao empenho de um dos pais.

O poder e a vontade dos estudantes em participar das decisões tomadas na escola estão sempre eminentes, mas, muitas vezes, são pouco explorados. Algumas escolas apostam nisso e criam uma estrutura organizacional que dá a eles a possibilidade de opinar ativamente nas decisões de diversos aspectos, inclusive na hora de resolver problemas entre os próprios alunos.

A EMEF Campos Salles, na busca por uma participação mais ativa dos estudantes nas decisões da escola, criou uma República dos Estudantes. Para formá-la, a escola faz uma eleição para vereadores e prefeito. Todo mundo pode se candidatar. Cada sala tem uma comissão para resolver os problemas nos salões. O aluno prefeito faz suas propostas e mobiliza os demais para cumpri-las, sempre que legitimadas pela maioria.

Imagem de Alunos

A gente propôs usar mais o QMágico, de ter pratos de vidro na merenda e outras coisas. Aí a gente negocia com a escola. A Amélia marca as reuniões das comissões para decidir tudo. Nós temos aquele armário onde guardamos todas as atas de reuniões com as decisões que tomamos.

Escolas democráticas pressupõem exatamente o que estamos discutindo: a participação efetiva dos vários segmentos da comunidade escolar, em todos os aspectos de sua organização, seja na construção dos projetos e processos pedagógicos, seja nas questões mais burocráticas. Todos têm voz e todos são ouvidos, sem exceção.

Essas escolas são muito mais comuns do que se imagina. Em uma breve pesquisa, você provavelmente vai encontrar várias, como as que mostraremos a seguir. Confira!

O Colégio Cardenal de Cracovia, no Chile, surgiu em uma comunidade muito violenta e pobre da capital Santiago. Especialmente importante foi a atenção dada ao carinho e à participação como ferramentas essenciais contra o mito da "criança problemática". O diretor diz que as crianças são apenas um termômetro para uma sociedade doente, que é violenta e materialista. Ele acredita que, no momento em que se cria um ambiente diferente, com fortes relações interpessoais, é possível ver as crianças felizes, protegidas em todos os aspectos. Com a organização da comunidade e dos estudantes, a escola é gerida também por uma República de Estudantes, que toma decisões importantes sobre a rotina escolar, como acontece na EMEF Campos Salles.

A Michael Oak Waldorf School, fundada em 1962, na África do Sul, surgiu de uma iniciativa de alguns pais que queriam uma escola cujo foco de ensino girasse em torno das necessidades de suas crianças, no lugar das necessidades de um currículo preestabelecido. A instituição, que faz parte da Associação de Escolas Independentes da África do Sul (ISASA), tem como objetivo proporcionar uma educação de qualidade, que abrace cada raça, cor, credo e classe social, além de desenvolver ainda mais a arte da educação dentro da escola e na comunidade em geral.

A escola iniciou suas atividades na sala de jantar de um desses pais e as assembleias aconteciam no foyer de recepção. Para construir a escola, de fato, boa parte dos tijolos foi colocada pelos próprios pais. Todo esse processo fez com que eles, funcionários e estudantes formassem uma comunidade escolar muito forte. Pais e professores fazem parte da gestão escolar, denominada Conselho de Curadores. O papel do diretor é substituído pelo Colegiado de Professores, que atende a necessidades pedagógicas da escola.

Na Nova Zelândia, temos a Ao Tawhiti Unlimited Discovery, uma escola pública de ensino fundamental e médio, que surgiu em 2001, com base na proposta pedagógica inovadora do educador John Clough. Uma das principais características da escola é que sua gestão conta com a participação das famílias e da comunidade. O currículo é personalizado e definido em colaboração com pais e professores. Encontros individuais são realizados sob demanda para que o aluno, com seus responsáveis e conselheiros educacionais, estabeleça objetivos e metas de aprendizagem. Agentes comunitários também participam da metodologia de ensino, tanto dentro da escola como em outros espaços da cidade.

Os estudantes usam bibliotecas, parques, praças e museus para aprender de forma autônoma. Eles podem escolher um dia na semana para estudar em casa ou em grupos nas casas de seus colegas. Existe, ainda, o contato com profissionais do mercado para entender como é o dia a dia das profissões que poderão seguir.

Ideia! Uma boa forma de começar a alimentar essa postura democrática e participativa na escola é reservando um tempo na semana para a criação de grupos de estudos, em que sejam amplamente incentivadas a discussão sobre inovações na educação, a observação e avaliação entre pares e a resolução coletiva de dificuldades de ensino.

Passo a passo

A gestão da sua escola precisa começar o movimento de se abrir para os outros envolvidos no processo de aprendizagem dos estudantes, buscando a participação de toda a comunidade escolar. Ela tem de deixar claro que aposta em uma gestão participativa!

A gestão deve informar sempre o que acontece na escola: como as decisões são tomadas e por que a escola acredita no que acredita. A grande chave para o início disso é a comunicação. Boletins, blogs, páginas em redes sociais, aplicativos de mensagens são um bom caminho. Tudo sempre muito colaborativo!

É preciso estar aberto para críticas, observações e sugestões. Sempre! A gestão deve se preocupar em criar mecanismos de captação periódica desses feedbacks que, certamente, ajudarão na tomada das próximas decisões e na melhoria dos processos.

A gestão participativa pressupõe o envolvimento de todos os profissionais da escola no planejamento das atividades. Isso significa atividades nos campos: administrativo, pedagógico, político e ético.

Quando a proposta é mudança, transformação, problemas surgem. Esses problemas e insatisfações precisam ser também administrados, geridos. A gestão precisa estar atenta e propor situações para amenizar essas “dores”.

Ao iniciar o planejamento participativo, seria interessante a gestão propor ao grupo algumas questões, como:

Outro ponto muito importante é a gestão do tempo na escola. Os professores, a direção e os coordenadores pedagógicos precisam organizar seu tempo para planejar, juntos, itinerários formativos dos estudantes, a construção e aprimoramento coletivo de planos de aula, projetos e avaliações interdisciplinares e, ainda, reservar algum tempo para atualizar a própria formação.

É preciso garantir que o estudante tenha mais flexibilidade acerca de quando e do que necessita fazer. Esse jovem vai precisar ter cada vez mais responsabilidade pessoal para avançar no itinerário formativo. Ele escolherá os momentos certos para leitura, discussão, pesquisa, experimentação, criação ou prática, conforme seus sentimentos e motivações.

Gestores não participam do dia a dia da sala de aula, mas, assim como os professores, necessitam de formação continuada. Para ser líder de processos de inovação na sua escola, o gestor precisa de atualização constante.

Pensar em soluções inovadoras para a gestão escolar não é nada simples e envolve tantos detalhes que é preciso parar por um minuto, respirar fundo e, depois, colocar a mão na massa.

Organize um passeio pela comunidade em torno da sua escola. Converse com as pessoas, peça aos alunos que mostrem onde moram e ressalte a importância da escola, buscando engajar todos com quem conversar. Informe as atividades que serão realizadas e chame quem puder para participar.

Envolva-se com a comunidade e faça com que ela se sinta à vontade para envolver-se com a escola.