Os profissionais da escola não são os únicos responsáveis
pela aprendizagem dos jovens
pela aprendizagem dos jovens
Conceito
Desafios
- Considerar todos os atores. Todo tipo de mudança na escola – praticamente tudo mesmo – passa por algum tipo de decisão que precisa envolver a gestão dela. Começa quando o professor inicia o planejamento de uma inovação, a organização da equipe, o tempo de aula reservado aos projetos, o tempo dedicado a rever os resultados, a flexibilidade para mudar, enfim... Como gerir isso tudo, sem ignorar qualquer um dos atores envolvidos nas mudanças? Talvez pareça difícil pensar nisso, mas é preciso!
- Considerar o protagonismo do aluno. Imaginemos, primeiramente, que o protagonista de todo esse movimento de transformação, o estudante, precisa estar inserido, de algum modo, na gestão escolar. Muitos são os argumentos para negar a sua participação nas decisões da escola onde estuda. Um deles se resume a dizer que “eles são jovens e não sabem o que é melhor para eles”. Hora de repensar!
- Integrar gestão administrativa à gestão pedagógica. O uso das novas tecnologias é, sem dúvida, um apoio fundamental a diretores, coordenadores e secretários de escola. Mas além da gestão administrativa, a gestão pedagógica também precisa se valer desses recursos. Essas gestões devem conversar e se apoiar
Caminhos percorridos
Um passo enorme é dar essa voz aos estudantes, fazendo com que se apropriem de seus
papéis como protagonistas do processo de ensino. Esses jovens, mais do que nunca, sabem o
que querem e podem ajudar muito nas decisões quanto ao seu processo de aprendizagem.
Sendo assim, muitas escolas já contam com essa participação na tomada de decisões.
A ideia era trazer os alunos para o Conselho de Classe. No entanto, receosos de que
eles não conseguissem expressar seus anseios na presença de adultos, foi criado o
Conselhinho. Lá eles discutem suas pautas com seus representantes, de que forma
destinar recursos para elas, quem poderá concretizá-las, para depois enviar tudo ao
Conselho, que analisa e faz os encaminhamentos necessários.
Na EPG Manuel Bandeira, os alunos participam ativamente da gestão da escola. Essa
prática foi consequência da mudança na rede municipal de ensino de Guarulhos, em
2012, que propunha a participação de representantes dos alunos no Conselho de
Classe. A nova formatação criou o Conselhinho, espaço onde os estudantes dão
sugestões e fazem reivindicações para serem levadas ao Conselho.
Ideia! Envolva seus estudantes nas tomadas de decisões, perguntando o que
eles acham de processos simples da escola e se ajudam na sua aprendizagem.
Leve os resultados para a gestão escolar e veja o que pode ser feito para
responder às questões desses jovens.
Um passo ainda mais ambicioso é tentar trazer a comunidade para dentro da escola, inserir os
pais e responsáveis no cotidiano desses jovens, de modo que tenham consciência e mais
participação em tudo que envolve o processo educacional. Em alguns casos, não é fácil chegar
até a comunidade, uma vez que há estudantes com estruturas familiares muito diversificadas.
Mas, uma vez engajados, a escola ganha mais força, proteção e envolvimento com seu
entorno. Um esforço que vale a pena!
É só lembrar-se do exemplo da EMEF Campos Salles, que derrubou seus muros e passou a
fazer ainda mais parte da comunidade. A escola era famosa por ser a escola dos favelados e
dos violentos, dos baderneiros. Agora a fama é: a escola da comunidade. Hoje, escola e
comunidade são uma coisa só.
A EMEF Amorim Lima decidiu envolver a comunidade na gestão da escola, por meio do
Conselho Deliberativo. As reuniões eram semanais, porque cada vez mais a
comunidade se engajava para entender o que acontecia na escola. No começo, a
gestão escolar compartilhava os problemas que enfrentava e, rapidamente, a escola e
a comunidade começaram a pensar juntas nas soluções, levando à criação de um
projeto político pedagógico.
A participação da comunidade foi essencial para a construção de um projeto político
pedagógico, que chegou às mãos do secretário de educação graças ao empenho de um
dos pais.
O poder e a vontade dos estudantes em participar das decisões tomadas na escola estão
sempre eminentes, mas, muitas vezes, são pouco explorados. Algumas escolas apostam nisso e
criam uma estrutura organizacional que dá a eles a possibilidade de opinar ativamente nas
decisões de diversos aspectos, inclusive na hora de resolver problemas entre os próprios
alunos.
A EMEF Campos Salles, na busca por uma participação mais ativa dos estudantes nas
decisões da escola, criou uma República dos Estudantes. Para formá-la, a escola faz
uma eleição para vereadores e prefeito. Todo mundo pode se candidatar. Cada sala
tem uma comissão para resolver os problemas nos salões. O aluno prefeito faz suas
propostas e mobiliza os demais para cumpri-las, sempre que legitimadas pela maioria.
A gente propôs usar mais o QMágico, de ter pratos de vidro na merenda e outras
coisas. Aí a gente negocia com a escola. A Amélia marca as reuniões das comissões
para decidir tudo. Nós temos aquele armário onde guardamos todas as atas de
reuniões com as decisões que tomamos.
Escolas democráticas pressupõem exatamente o que estamos discutindo: a participação
efetiva dos vários segmentos da comunidade escolar, em todos os aspectos de sua
organização, seja na construção dos projetos e processos pedagógicos, seja nas questões mais
burocráticas. Todos têm voz e todos são ouvidos, sem exceção.
Essas escolas são muito mais comuns do que se imagina. Em uma breve pesquisa, você
provavelmente vai encontrar várias, como as que mostraremos a seguir. Confira!
O Colégio Cardenal de Cracovia, no Chile, surgiu em uma comunidade muito violenta e
pobre da capital Santiago. Especialmente importante foi a atenção dada ao carinho e à
participação como ferramentas essenciais contra o mito da "criança problemática". O
diretor diz que as crianças são apenas um termômetro para uma sociedade doente,
que é violenta e materialista. Ele acredita que, no momento em que se cria um
ambiente diferente, com fortes relações interpessoais, é possível ver as crianças
felizes, protegidas em todos os aspectos. Com a organização da comunidade e dos
estudantes, a escola é gerida também por uma República de Estudantes, que toma
decisões importantes sobre a rotina escolar, como acontece na EMEF Campos Salles.
A Michael Oak Waldorf School, fundada em 1962, na África do Sul, surgiu de uma
iniciativa de alguns pais que queriam uma escola cujo foco de ensino girasse em torno
das necessidades de suas crianças, no lugar das necessidades de um currículo
preestabelecido. A instituição, que faz parte da Associação de Escolas Independentes
da África do Sul (ISASA), tem como objetivo proporcionar uma educação de qualidade,
que abrace cada raça, cor, credo e classe social, além de desenvolver ainda mais a arte
da educação dentro da escola e na comunidade em geral.
A escola iniciou suas atividades na sala de jantar de um desses pais e as assembleias
aconteciam no foyer de recepção. Para construir a escola, de fato, boa parte dos tijolos
foi colocada pelos próprios pais. Todo esse processo fez com que eles, funcionários e
estudantes formassem uma comunidade escolar muito forte. Pais e professores fazem
parte da gestão escolar, denominada Conselho de Curadores. O papel do diretor é
substituído pelo Colegiado de Professores, que atende a necessidades pedagógicas da
escola.
Na Nova Zelândia, temos a Ao Tawhiti Unlimited Discovery, uma escola pública de
ensino fundamental e médio, que surgiu em 2001, com base na proposta pedagógica
inovadora do educador John Clough. Uma das principais características da escola é que
sua gestão conta com a participação das famílias e da comunidade. O currículo é
personalizado e definido em colaboração com pais e professores. Encontros individuais
são realizados sob demanda para que o aluno, com seus responsáveis e conselheiros
educacionais, estabeleça objetivos e metas de aprendizagem. Agentes comunitários
também participam da metodologia de ensino, tanto dentro da escola como em outros
espaços da cidade.
Os estudantes usam bibliotecas, parques, praças e museus para aprender de forma
autônoma. Eles podem escolher um dia na semana para estudar em casa ou em grupos
nas casas de seus colegas. Existe, ainda, o contato com profissionais do mercado para
entender como é o dia a dia das profissões que poderão seguir.
Ideia! Uma boa forma de começar a alimentar essa postura democrática e
participativa na escola é reservando um tempo na semana para a criação de
grupos de estudos, em que sejam amplamente incentivadas a discussão sobre
inovações na educação, a observação e avaliação entre pares e a resolução
coletiva de dificuldades de ensino.
Passo a passo
A gestão da sua escola precisa começar o movimento de se abrir para os outros
envolvidos no processo de aprendizagem dos estudantes, buscando a participação de
toda a comunidade escolar. Ela tem de deixar claro que aposta em uma gestão
participativa!
A gestão deve informar sempre o que acontece na escola: como as decisões são
tomadas e por que a escola acredita no que acredita. A grande chave para o início
disso é a comunicação. Boletins, blogs, páginas em redes sociais, aplicativos de
mensagens são um bom caminho. Tudo sempre muito colaborativo!
É preciso estar aberto para críticas, observações e sugestões. Sempre! A gestão deve
se preocupar em criar mecanismos de captação periódica desses feedbacks que,
certamente, ajudarão na tomada das próximas decisões e na melhoria dos processos.
A gestão participativa pressupõe o envolvimento de todos os profissionais da escola no
planejamento das atividades. Isso significa atividades nos campos: administrativo,
pedagógico, político e ético.
Quando a proposta é mudança, transformação, problemas surgem. Esses problemas e
insatisfações precisam ser também administrados, geridos. A gestão precisa estar atenta e
propor situações para amenizar essas “dores”.
Ao iniciar o planejamento participativo, seria interessante a gestão propor ao grupo algumas
questões, como:
- Nossa escola tem se mostrado aberta a mudanças?
- Nossa escola está conseguindo atender a transformações que a atual sociedade exige?
- Temos a clareza de que o centro dessas mudanças é a comunidade escolar?
- Nossos professores, ou nossa comunidade escolar, estão motivados para essas mudanças?
- Todos encaram as mudanças como desafios?
- Estamos preparados para enfrentar mudanças?
- O que já fazemos na nossa escola que pode ser considerada uma mudança?