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Escolas e educadores devem rever atuações para estarem alinhados com as expectativas do século XXI

Três crianças aparecem sorrindo e lendo no pátio da escola

Escolas e educadores devem rever atuações para estarem alinhados com as expectativas do século XXI

Inteligência artificial, robótica, biotecnologia, impressão 3D, realidade virtual. A convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas mudará a forma como vivemos em um futuro próximo e vem sendo chamada pelos especialistas como a quarta revolução industrial.

Nesse cenário, profissões que conhecemos hoje podem desaparecer, novos empregos devem surgir e qualificações que sequer estão incluídas nos currículos de escolas e universidades passarão a ter grande valor no universo profissional.

O tema ganhou destaque em 2016 quando o relatório The Future of Jobs, apresentado no Fórum Econômico Mundial, analisou o impacto da quarta revolução industrial no mercado de trabalho e quais as competências serão mais valorizadas no futuro. Na contramão do século passado, características como empatia, criatividade, pensamento crítico e capacidade em resolução de problemas serão mais importantes do que competências técnicas, evidenciando um importante alerta: escolas e educadores precisam rever suas atuações se quiserem estar alinhados com as expectativas do século XXI.

As chamadas competências do século XXI formam um conjunto de atitudes, habilidades e conhecimentos que preparam não somente o educador, mas também o estudante para a vida acadêmica, profissional, pessoal e em comunidade. Dentre as competências-chave, podemos citar: solução de problemas, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, empatia, inteligência emocional, bom senso e flexibilidade.

“Hoje existe um abismo entre o que a escola tradicional está ensinando e o que o mundo está precisando lá fora. O modelo atual foi pautado em uma lógica de linha de produção, que impõe a cada aluno aprender do mesmo jeito, com o mesmo material didático e na mesma velocidade. Depois, espera-se que o aluno retenha aquele conhecimento e devolva na prova uma mesma resposta, só que esse modelo não funciona mais”, explica o professor Marcelo Veras (abaixo), que é especialista em gestão de carreiras e presidente da Inova Business School e CEO da Unità Educacional.

Para o especialista, parte da dificuldade das escolas em acompanhar todas as mudanças está relacionada a uma fase de transição, na qual gerações mais antigas de educadores – ainda presas a um modelo mental de detentores do conhecimento – se encontram com alunos da geração de nativos digitais, que já nascem alinhados com esse novo mundo conectado e repleto de informações.

Marcelo Veras

O novo educador

Se o futuro do trabalho passa inevitavelmente por um novo modelo de educação, qual seria o novo papel dos educadores no século XXI?

Marcelo Veras acredita que bons professores podem ser comparados a bons líderes de empresa, cujas competências técnicas precisam somar-se às comportamentais para resultar em uma carreira de sucesso.

De acordo com o especialista, há três características consideradas fundamentais para o professor do futuro: fazer diagnóstico cognitivo, ou seja, descobrir como cada aluno aprende e sabe personalizar esse aprendizado; ser curador de conteúdo, como as informações disponíveis a todos, cabe ao professor direcionar o aluno e identificar conteúdos de boa qualidade na internet; e por último ser um líder de equipe.

 “Vejo o novo professor como alguém capaz de lecionar em uma sala de aula com alunos de diferentes perfis e organizar metodologias ativas de ensino que façam sentido para todos”, diz.

O acesso à informação e à tecnologia, a evolução de práticas pedagógicas e as transformações ocorridas no perfil dos alunos são apenas alguns dos desafios para o futuro da educação.

Autoformação e novas formas de aprendizagem em sala de aula são tendências não só no Brasil, mas no mundo, como aponta a pesquisa Visões de Futuro +15, da Fundação Telefônica Vivo.

Em sua terceira edição, o estudo traz vislumbres do uso de tecnologias e comportamentos que podem alterar o futuro de temas como educação, aprendizado de crianças e adolescentes, relações de trabalhos e a cidadania. De acordo com o mapeamento, novos modelos educacionais e de tecnologias que facilitam o desenvolvimento transdisciplinar, horizontal e multicultural na educação são movimentos já iniciados.

Nesse contexto, educadores que, mesmo com poucos recursos, têm conseguido abandonar fórmulas prontas e repensar suas práticas em sala de aula estarão mais preparados para os impactos da quarta revolução industrial. “Mesmo com todas as dificuldades, há uma ferramenta poderosa ao alcance de todos os educadores: escolher a forma de ensinar”, conclui o especialista.

De olho no futuro (h2) - Conheça educadores que usaram a criatividade para inovar em sala de aula. A Escola Municipal Senador Milton Campos fica na comunidade do Jardim Icaraí, no bairro da Brasilândia, periferia de São Paulo. Sem muitos equipamentos culturais na região, as professoras Tais Lopes e Fernanda Milanello resolveram criar um projeto de mediação de leitura diferente nas aulas de português. Na atividade, os alunos do nono ano fundamental escolhem um livro para ler às crianças do primeiro ano, que ainda estão sendo alfabetizadas. IMAGEM “Sempre fizemos roda de leitura e contação de histórias com os alunos, mas achamos que o conteúdo ficava muito vago e eles perdiam o interesse com facilidade. Então, percebemos que se os alunos pudessem escolher suas próprias histórias e lessem para outros, facilitaria o envolvimento com o conteúdo”, conta Tais. Para deixar a tarefa mais dinâmica, as professoras decidiram sair da sala de leitura e explorar novos espaços na escola. A ideia foi um sucesso, e hoje as mediações acontecem semanalmente em diferentes lugares, como na quadra ou na laje da escola. “Notamos que aumentou o respeito entre eles. Os alunos mais velhos ficam pensando em maneiras diferentes de contar a história, e os pequenos ficam ansiosos esperando o momento da leitura. Também trouxemos novos significados aos ambientes, transformando qualquer lugar em troca de experiências e paixão pela leitura”. Girassóis de Van Gogh O professor Anderson Teixeira, do Colégio Objetivo Barão Geraldo, em Campinas (SP), resolveu inovar em sua aula de oficina de criação para a turma multisseriada do sexto ao nono ano, que estudam em período integral. Os alunos estudariam o famoso pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) e uma de suas principais obras, a Doze girassóis numa jarra. Pensando em uma forma diferente de apresentar o conteúdo, o professor pediu que cada aluno fizesse sua pesquisa sobre o artista, mostrou algumas obras e depois propôs que a turma plantasse seus próprios girassóis na horta do colégio. Durante meses, estudantes que até então tiveram pouco contato com a terra, aprenderam a plantar, trabalharam em equipe e acompanharam o crescimento das flores diariamente. IMAGEM “Trabalhamos com sistema apostilado, então eu procuro trazer coisas diferentes para complementar a aprendizagem. Senti que eles precisavam de algo mais prático e pensei em uma vivência que fosse significativa para eles”, conta o educador. A experiência deu tão certo que o trabalho na horta se estendeu para outras disciplinas e hoje está ligada a temas como empreendedorismo e sustentabilidade dentro da instituição.
Conheça as competências mais valorizadas no perfil do novo educador
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