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Um ano após intenso conflito armado na comunidade da Rocinha, diretora e educador contam como foi lidar com a questão da violência, e como a tecnologia auxiliou no enfrentamento da situação

Quatro estudantes da escola municipal André Urani estão em volta de uma mesa utilizando computador e celulares

Em 17 de setembro de 2017, a Escola Municipal André Urani, localizada na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, precisou se reinventar para continuar funcionando.

Um grande grupo de homens armados invadiu a Rocinha em conflito pelo domínio do tráfico de drogas na região. O cotidiano dos moradores e trabalhadores da comunidade passou a contar com constantes tiroteios por vários dias, o que impediu o funcionamento de postos de saúde, comércio, assim como o livre trânsito da população.

Inaugurada em 11 de fevereiro de 2012, a partir da desapropriação do antigo clube Umuarama, a Escola Municipal André Urani iniciou o projeto GENTE, sigla para Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais, em 1º de março de 2013, por meio da Secretaria Municipal de Educação junto a diversos parceiros, dentre eles a Fundação Telefônica Vivo.

O espaço educacional se consolidou como referência, conquistando certificações como o reconhecimento no Mapa de Inovação e Criatividade do MEC, em 2015, além de ser uma das 50 escolas municipais com o melhor resultado na Prova Rio de 2016. Além disso, a André Urani faz parte do programa Inova Escola, da Fundação Telefônica Vivo, de incentivo ao uso de tecnologias digitais em seus modelos de ensino e aprendizagem.

Um ano depois, a diretora-geral da Escola Municipal André Urani, Marcela de Oliveira, e o professor de História Sergio Daniel Nasser, contam como foi passar por essa experiência de conflito e violência no território em que a escola está inserida, e como a tecnologia ajudou a superar a situação. O relato foi produzido a partir dos Encontros de Integração 2017 promovidos dentro do projeto Inova Escola:

“A partir da segunda quinzena de setembro de 2017, a escola, como todas as outras unidades do entorno, teve sua rotina modificada.

Cercada por uma exuberante floresta, a área não oferecia segurança para a continuidade do trabalho para alunos e funcionários. O fechamento da unidade nos dias posteriores ao conflito foi informado pela Direção da unidade utilizando a página da escola no Facebook. Os avisos diários foram compartilhados por centenas de pessoas, aumentando consideravelmente a projeção da escola para todos os moradores da comunidade. O número de curtidas, ou seja, de pessoas que acompanham as postagens, cresceu substancialmente.

Apesar do reconhecimento expressivo, a interrupção das atividades trouxe também a necessidade de pensarmos na continuidade do trabalho pedagógico, já que o conflito aconteceu nas últimas semanas do 3º bimestre, impedindo a aplicação das provas bimestrais da Rede e o fechamento do processo de avaliação do período.

Em julho de 2017 tínhamos iniciado uma formação que vinha suprir uma demanda manifestada pelos professores. Havia necessidade de trabalharmos com o conceito de Cultura Digital em nossas aulas, trazendo a possibilidade da ampliação do repertório de utilização de aplicativos e redes sociais para o incremento da aprendizagem dos alunos.

Nesse sentido, a parceria com a Fundação Telefônica Vivo trouxe uma série de possibilidades de pensamento sobre as necessidades dos educandos, através da metodologia do Design Thinking, pela qual a empatia fornece dados importantes para a construção de novas relações entre professores e alunos no cotidiano escolar.

Após o início do conflito, ajustamos a metodologia da formação para uma proposta ainda mais prática, levando  a ideia de cultura maker para um processo “mão na massa”. Utilizando também o conceito de educação online que reforçasse o vínculo dos alunos com a página, potencializamos o uso da internet com aplicativos como o Google Classroom e Edpuzzle, além do Google sites, de blogs, entre outras ferramentas.

Dessa forma, os professores foram criando atividades dentro dos laboratórios, personalizando-os para cada grupo. A divulgação das atividades na página da escola no Facebook fez com que a metodologia fosse validada pelos estudantes, que demonstraram grande cooperação e solidariedade, marcando seus colegas e divulgando as atividades para todos. As atividades também foram monitoradas pelos responsáveis, que acompanhavam as postagens e marcavam os estudantes, verificando a frequência e se aproximando cada vez mais da escola.

A Equipe da Unidade validou positivamente esse processo, reconhecendo que as atividades online puderam fortalecer e garantir o processo de aprendizagem dos alunos no período onde a rotina da escola foi sensivelmente alterada. Dessa forma, foi preciso também a participação de toda a comunidade escolar para definir como seria o período de avaliações e como a escola iria funcionar a partir daquele momento, onde a segurança deveria ser garantida no deslocamento de todos até a unidade.

Alguns acordos foram firmados, como a redução do horário de atendimento, onde os estudantes da nossa unidade passariam a se deslocar junto com os demais adolescentes que estudam em escolas de horário parcial. Pactuamos que as ausências em decorrência da violência deveriam ser avisadas por mensagens através da página da escola. Essa iniciativa foi amplamente aceita pelos responsáveis, assim como as atividades digitais.

Sabemos que o nosso trabalho se torna cada vez mais potente e que os desafios alimentam a nossa vontade de fazer uma escola cada vez mais integrada à comunidade, garantindo uma educação de qualidade para os adolescentes da Rocinha”.

Ferramentas utilizadas pelos professores

“Diante desse contexto, resolvemos potencializar alguns instrumentos pedagógicos desenvolvidos pelos professores da instituição com tecnologias acessíveis.

Em História, um desses instrumentos é o site O Ponto Onde Estamos, que consiste numa plataforma virtual para dialogar com os estudantes. Esse site foi desenvolvido a partir dos cursos realizados em parceria com a Faculdade de Pedagogia da PUC.

Nele criamos um espaço virtual de trocas pedagógicas. Esse espaço é separado em itens que incluem a disponibilização de atividades cotidianas e de informações sobre os projetos desenvolvidos na escola. É um espaço onde são agrupados também dicas de filmes, de sites de notícias, além de um painel de textos, vídeos e demais documentos sobre assuntos da atualidade. Também ficam acessíveis os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes e os conceitos compartilhados nas aulas.

O site facilita a interação com os estudantes e possibilita ações pedagógicas com o uso de materiais criados pelo professor e ferramentas disponíveis na internet. No momento de interrupção de aulas, utilizamos principalmente o Laboratório de Ensino, disponibilizando atividades à distância para os estudantes”.

Escola André Urani, no Rio, usa tecnologia e redes contra conflito
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