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Sob ponto de vista interdisciplinar, professor constrói horta junto a alunos e tenta transformar o projeto em startup para ajudar a comunidade

Alunos da Escola Marechal Eurico Gaspar Dutra posam para foto em grupo

Ao pensar em projetos escolares como conquistas passageiras, alunos tendem a não se dedicar ou mesmo não manifestar interesse em fazer parte deles. Por isso, o professor Marcos da Costa Mendes, 35 anos, encontrou uma maneira de ensinar aos alunos como combinar conhecimentos interdisciplinares para construir uma horta, pensando nela como uma startup que promova impacto social e ambiental.

Tudo começou quando o professor aceitou lecionar na Escola Marechal Eurico Gaspar Dutra, localizada na periferia de Recife (PE), assim que conclui uma especialização em Ciência do Solo. Apesar de ensinar Matemática, a forte relação com a natureza o levou a fazer uma graduação em Biologia, especializando-se em solo.

“A minha trajetória com a educação nunca foi fácil”, relembra Mendes, nascido em Porto Esperança, no Pantanal mato-grossense. “Tive de esperar até a terceira série para começar a estudar, pois não tinha turma para mim. Quando finalmente comecei a escola, não existia estrutura. Para chegar até lá, tinha que ir de barco ou a cavalo”.

Unindo essas lembranças da época da escola com a busca por desafios e o sonho de pesquisador, o recém-chegado professor de Matemática se ofereceu para conduzir o projeto de construção de uma horta com as turmas, uma antiga demanda da gestão da escola.

“Não queria uma horta comum. Como se trata de uma região sem infraestrutura básica, com alta taxa de poluição urbana, a ideia era unir uma demanda local com empreendedorismo, utilizando métodos pedagógicos e a técnica de Ciência do Solo”, acrescenta.

Plantando ideias

Após aval da diretoria da escola, em 2016, ele começou a divulgar a ideia. Para convencer os alunos, o professor usou a Ciência como apelo, propôs atividades fora da sala de aula, e fez com que enxergassem um propósito para a comunidade local sugerindo a criação de uma startup.

“Na minha concepção, o aprendizado não é fragmentado. A horta em si se tornou um espaço didático. Eles conseguiram ver que a Matemática não está só no cálculo, vai além da equação, conecta-se com a Química, a Biologia, a Ecologia, a Ética e sociedade”, conta Marcos sobre como trabalhou oralidade, interação e mobilização de grupo ao desenvolver a atividade.

Por meio de oficinas, o pesquisador desenvolveu a técnica de construção com os alunos, ensinando-os sobre processos envolvendo os materiais usados, como pneus e garrafas pet. Eles passaram a compartilhar com outras turmas conhecimentos como cálculo de área, volume, tempo de produção. Tudo analisado e ensinado em meio ao manejo da horta.

Atualmente, mais de 300 alunos, inclusive de outras turmas, estão envolvidos na manutenção da horta e os alimentos produzidos são utilizados pela escola para reforçar a merenda escolar. Os alunos estão trabalhando em um sistema de irrigação para aumentar a produtividade.

Alunos da Escola Marechal Eurico Gaspar Dutra posam para foto em grupo

Colhendo o futuro

Durante as pesquisas sobre a matéria-prima a ser utilizada, antes mesmo de iniciar a montagem da horta, o professor e os estudantes identificaram demandas da região e passaram a vislumbrar o projeto escolar como uma startup, um negócio de impacto para solucionar problemas da comunidade.

“Estamos em uma região com terreno acidentado, isso causa deslizamentos. Nas pesquisas, eles descobriram que é possível usar garrafas pet e outros materiais descartáveis para construir blocos que ajudam a conter o avanço das barreiras”, conta o professor Marcos.

Foi essa a ideia inicial para transformar o projeto em algo maior, estruturado como uma startup que oferece dois produtos: blocos de construção e um sistema de malha para travar barreiras em áreas de risco.

Um grupo, composto por alunos do 1º e 2º anos do Ensino Médio, foi criado para pensar em nome, fazer tabelas, gráficos, planejamento estratégico e administrativo. Além de prepararem apresentações acadêmicas em universidades e eventos, em busca de captação de recursos, os jovens já trabalham com borracharias locais que fornecem pneus descartados para serem utilizados na construção e manutenção da horta já existente e da futura produção dos blocos.

Os próximos passos incluem uma parceria com a Associação de Moradores e o oferecimento de palestrar aos coletores de material reciclado para incentivá-los a trazer os materiais até a escola. É ali que será desenvolvido um sistema para construir blocos, com oficinas para os moradores construírem casas à prova de barreiras.

“Nós apenas começamos. Para chegar a um plano de negócio não foi fácil, mas certamente está sendo muito produtivo. Às vezes as surpresas estão à frente de nossos olhos o tempo todo, basta olhar de uma maneira diferente para se surpreender”, conclui o professor Marcos Mendes.

Protagonismo Jovem

Além de incentivar uma série de habilidades que fogem do currículo tradicional, o projeto desenvolvido pelos alunos na Escola Marechal Eurico Gaspar Dutra, em Recife, também dá espaço para os jovens. O professor Marcos Mendes conta que quem está responsável por escrever o plano de negócios da futura startup, é um estudante de 15 anos, do 2º ano do Ensino Médio.

Um dos ex-alunos de Mendes aplicou os conhecimentos adquiridos no projeto e construiu a própria horta na laje da casa da avó, comercializando os produtos para vizinhos, amigos e moradores locais. Ele faz contato por meio de grupos no WhatsApp e faz as entregas de bicicleta. Atualmente, gera uma renda extra, mas o jovem pretende expandir o negócio futuramente.

Professor e alunos transformam projeto de horta em startup
Professor e alunos transformam projeto de horta em startup