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Grêmio estudantil incentiva projeto com grafite que ressignifica relação com escola e homenageia importantes personalidades brasileiras

Imagem do escritor Machado de Assis, usando óculos, barba e cavanhaque estampa uma das paredes de escola em Guarulhos no projeto Grafite na Escola.

Já imaginou dividir a sala de aula com Clarice Lispector, Criolo, Marta Silva, Tarsila do Amaral, Mauricio de Souza e Zumbi dos Palmares? É exatamente o que acontece com os estudantes da Escola Estadual Parque Jurema III, em Guarulhos (SP). Desde o meio do ano passado, o projeto Grafite na Escola deu às paredes brancas e sem graça das salas de aula e da biblioteca os rostos de importantes personalidades brasileiras.

Toda a ação foi coordenada pelo grêmio estudantil, que, estimulado pela direção, tinha a missão de pensar em algo que ressignificasse a escola e ajudasse a diminuir a evasão escolar.

Quando os estudantes saíram de férias, em julho de 2018, a diretora Mariana Valente Gonzaga mandou fazer uma parede nova no pátio da escola, dedicada ao grafite. “Quando os alunos voltaram, eles adoraram a surpresa. Deu outra cara!”.

E isso serviu de inspiração. “Nós queríamos fazer ações a partir do que vivemos em nosso cotidiano, justamente para ter adesão de todos. O grafite encanta muitos de nós aqui”, relata Julia Roque, uma das representantes do grêmio. Assim, os estudantes escreveram o projeto e arregaçaram as mangas para torná-lo realidade.

Escolhas democráticas

Ídolos do presente e do passado com grande importância para a história e para a cultura brasileira era o critério da escolha dos nomes que enfeitariam as paredes da escola. Professores e estudantes levantaram quase 40 candidatos.

“Também procuramos escolher personalidades com histórias de vida parecidas com a de nossos estudantes para inspirar e gerar identificação”, diz o professor de educação física André Luiz de Aguiar.

Para chegar aos 16 nomes eternizados pelas tintas do Grafite na Escola, a direção organizou um evento para mobilizar seus 1.700 alunos e contou com recurso tecnológico interessante.

“Liberamos o wi-fi em toda a escola e espalhamos os nomes dos candidatos acompanhados de um QR Code que direcionava para a página do artista no Wikipédia. A ideia é que eles tivessem mais informações para embasar a escolha”, descreve a diretora Mariana.

O uso do smartphone estimulado pela direção foi algo novo para todos. Alguns alunos e professores nunca tinha usado QR Code, que acabou sendo fundamental para o engajamento. A votação final foi organizada por meio de um formulário online que circulou até entre os pais dos estudantes.

“O mais legal é que projeto foi todo desenvolvido entre professores, direção e alunos, sem hierarquias. Foi muito bacana ver os estudantes engajados, tendo iniciativa e guiando todo o processo”, enfatiza o professor André Luiz de Aguiar.

Um toque de arte

O artista escolhido pelo grêmio para dar conta do trabalho foi o grafiteiro Fernando Manuel, morador desde o nascimento do bairro onde fica a escola. Há 16 anos, ele se especializou em desenho realista, que espalha pelas ruas de Guarulhos. “Quando coloco um grafite em uma parede pública, de um bairro, as pessoas passam a cuidar melhor do lugar, sentem mais carinho por ele”, explica o artista.

O trabalho dentro da escola, registrado em making off, trouxe mais do que essa identificação com o espaço. “O projeto na Escola Parque Jurema III gerou novos talentos. Muitos estudantes acompanharam meu trabalho, me ajudaram com as pinturas e tomaram gosto pelo grafite. Hoje me procuram pedindo dicas e já estão grafitando por aí”.

A história de vida do artista de Guarulhos reflete o potencial transformador do grafite. Fernando conta que vivia pelas ruas sem perspectivas até conhecer o grafite.

“Minhas ideias, meus pensamentos, tudo mudou para melhor. Conheci pessoas novas, vivenciei outros estilos de vida. Tomara que mais escolas abram a mente para projetos que envolvam a cultura de rua, seja grafitando os espaços, promovendo oficinas, incentivando o surgimento de novos artistas”, afirma.

Mudança profunda

Entre a ideia e a concretização do projeto foram três meses de duração. Depois disso, a escola não era mais a mesma.

“De um modo geral, a escola pública sempre foi desprezada e mal cuidada pelos próprios alunos. Quando fizemos essa mudança nos espaços, aumentou a sensação de pertencimento e cuidado de todos. Acho que o pensamento é ‘se eu vi fazer, se eu participei disso, por que vou destruir?’”, diz Julia, comemorando o sucesso da ação.

Os homenageados pelo projeto Grafite na Escola são: Ayrton Senna – Carlos Drummond de Andrade – Carolina de Jesus – Chico Mendes – Clarice Lispector – Criolo – Elis Regina – Gabriel, O pensador – Maria da Penha – Marta Silva – Renato Russo – Tarsila do Amaral – Santos Dumont – Machado de Assis – Zumbi dos Palmares – Mauricio de Souza

A relação entre professores e jovens também melhorou. Até mesmo a participação e o conteúdo discutido em sala sofreram mudanças, já que muitos professores passaram a usar as personalidades retratadas nas paredes como tema das aulas, aproveitando o interesse e o conhecimento prévio gerado pela mobilização.

O grêmio estudantil passou a ser mais respeitado na escola e a contar com maior envolvimento de todos. “Percebo que os estudantes desenvolveram um olhar mais crítico e perceberam o potencial de transformação e protagonismo que eles mesmos têm através do grêmio. É fantástico!”, destaca o professor André.

Projeto Grafite na Escola provoca ressignificado e combate evasão
Projeto Grafite na Escola provoca ressignificado e combate evasão